São muitos os motivos para fazer uma viagem turística à Tailândia. As praias, as cores, a cultura forte, a arquitetura com construções em ouro. Mas isso não é tudo o que atrai visitantes até lá. Pouca gente faz ideia de como o país é procurado por gourmands. A razão disso: os tailandeses sabem o sucesso que fazem mundo afora com sua culinária local. Tanto que passaram a dar aulas em casa. Na verdade, em casa ou em qualquer lugar que tenha uma cozinha. Todo grande hotel tailandês, por exemplo, tem uma escola de culinária em tempo integral, com chef especializado em ensinar, tamanha a procura. Os spas orientais, com suas famosas massagens, já não são os mais procurados: tornaram-se, acredite, uma opção para quem acompanha os gourmands.
Se você pretende conhecer, aprender e degustar o país, as escolas do tipo cooking class são, hoje, a melhor alternativa. O diferencial está na assistência sempre gentil e zen dos mestres do sabor thai. Opte por cursos de culinária nos hotéis, nos quais os chefs são preparados e têm tudo planejado e impresso. Outra dica: a diferença de sistema de medidas confunde mesmo, portanto, leve consigo uma daquelas tabelas de conversão. Mas a primeira providência antes de ir para a Tailândia é verificar seus conhecimentos de inglês. Se for razoável, até dá para encarar um roteiro de aulas + restaurantes + passeios. Porém, saiba que os locais "acham” que falam inglês. O sotaque é tamanho que, depois de alguns dias, parece mais fácil entender o tailandês mesmo...
Entendendo o conceito
A tradição culinária tailandesa é baseada em cinco "sensações de sabores”: apimentado, azedo, salgado, doce e agridoce. Para eles, é fundamental que tais elementos aromáticos estejam presentes e concomitantes em uma refeição e em pratos variados. Todos costumam se servir em mesas coletivas. A autêntica refeição tailandesa é familiar ou em grupos. Nasceu para ser compartilhada, e você deve degustar "o conjunto da obra”. As famílias jantam juntas todas as noites; os amigos saem em grupo para comer. A individualidade ocidental não faz muito sentido aqui. A ordem cultural budista exemplifica o share, o compartilhar.
Com muitas influências da Índia, do Japão e da China, os tailandeses só não usam os famosos hashis (pauzinhos de madeira). A base aqui é o sutil, o aromático, o performático e, principalmente, o choque sensorial. A coisa gira em torno de misturar o doce com o salgado, salgado com ácido, doce com picante... Tudo vai com quase tudo! Para quem não está acostumado, a pimenta assusta e parece dominar o taste local, mas representa só um quinto das opções. Na verdade, ninguém se opõe a diminuir a porção de pimenta. Aliás, a picância é muito bem indicada nos menus através de sinais claros de uma, duas ou três pimentinhas ao lado do nome do prato. Nas fortes, vai quem quer. Só para completar: de gengibres existem três tipos na Tailândia, de pimentas, são centenas.
Mas vamos falar do roteiro indicado pela Versatille e também pelo casal Cyro Sá e Marina Pipatpan – ele, brasileiro de coração thai, ela, tailandesa de coração "brazuca” –, ex-proprietários do famoso Mestiço (entendeu o nome?) em São Paulo. Se você for por conta própria, programe-se para um período mínimo de 10 a 12 dias, pois a viagem de avião é longa e as atrações não compensam uma visita às pressas. Veja os fusos e calcule uma diferença de 12 horas do Brasil. Sugiro começar no norte do país e descer até o litoral. É claro que você chegará no aeroporto de Bangkok, mas de lá mesmo pode fazer conexão para a cidade de Chang Mai.
Comece pelo norte
Chang Mai fica a cerca de 1 hora de voo de Bangkok. Lá, ficamos no fantástico e maravilhoso Four Seasons Chang Mai, um hotel resort que recria o ambiente rural "arrozeiro”, pois no entorno está um arrozal. Construído horizontalmente, em chalés de luxo com varandas para as refeições, e recebendo muitos turistas norte-americanos, o hotel, apesar de estar sempre lotado, não transparece nenhuma agitação. É silencioso, e a devoção à natureza se evidencia pelas inúmeras obras de arte e arranjos de flores – frescas, naturais, lindas – espalhadas por toda a parte.
Prato do Hotel Four Seasons Chang Mai
O atendimento seis estrelas é divino! Se você é brasileiro, na manhã seguinte à sua chegada, um jornal em bom português estará na bandeja do café. Depois de acender um incenso (à disposição no quarto) na varanda do apartamento, só para sentir o clima de chegada, a primeira coisa a fazer é agendar as aulas de culinária com o chef Pitak Srichan. Simpático, divertido e muito bom professor, vai ensiná-lo a dar um show de cozinha thai no Brasil. As aulas são na Cooking School, um local imponente, quase como se fosse uma faculdade profissional, porém com o charme tailandês. Logo de cara a dica é se dirigir ao espaço para rituais (uma casinha com divindades representadas) e queimar um incenso: para pedir inspiração, proteção para não se cortar ou queimar e, principalmente, concentração para entender o confuso inglês com sotaque(!).
Pitak começa com um show de habilidades e prepara muito rápido pequenas porções de antepastos que lhe serão ofertadas para degustar. Cada um recebe seu kit com ingredientes separados e há um cooktop por aluno. São turmas de no máximo oito participantes, com o chef e sua equipe indo de fogão em fogão, prestando assistência, tudo muito profissional, tal como as aulas que vi no Ritz Scoffier ou no Cordon Bleu, em Paris. Pode-se "comprar” os módulos por dia, com cerca de 3h/aula, seguidos de um almoço ou jantar.
Chef Pitak Srichan, de Chang Mai
Ainda dentro do Four Seasons, particularmente recomendo experimentar Hoi Shell Pad Prig Pao e Goong Mae Narm. Que pratos são esses? Confesso que é tudo complexo e difícil de anotar... Na dúvida, chame o chef, ele explicará com simpatia. No Four Seasons, quem comanda a cozinha é Rewat Srilachai. Nem pense em deixar de provar as saladas típicas do norte, como a Larb Moo (porco com ervas frescas e arroz em ninhos) e a Naem, que é uma espécie de linguiça azedinha. Experimente também uma variação da Kaow Soi, a sopa típica do norte, no excelente Daratevi Oriental Hotel, da mesma rede do Mandarin Oriental. No Daratevi também há ótimos professores de culinária. Ainda em Chang Mai, se for domingo, visite o Sidewalk Bazar. Pode- se comer nas barracas de rua. Outra dica é o Museu do Ópio. Se sobrar tempo, passe nas lojas de artesanato e prata na San Kamphaeng Road e, depois, almoce no Baan Suan: boa comida com jardins suntuosos e uma piscina para quem quiser se refrescar! Mais uma atração em Chang Mai? Elefantes! Faça uma visita ao parque deles. Por fim, lembrando que nós, gourmands, não somos apenas turistas, antes de ir embora, prove a Larb Kua Pla (peixe com chili). E "segura, peão”, pois a pimenta é da "braba”!
Bangkok de Tuk Tuk
Tuk Tuk é um nome onomatopeico para aqueles triciclos fechados que estão por todos os lados na frenética cidade de Bangkok. E eles são mesmo uma graça para nós. Bangkok era cidade portuária do antigo Sião, que caiu nas mãos da Birmânia no século 16 e foi resgatada em 1782 por Rama I. O novo rei inaugurou a dinastia que está até hoje no poder e transformou a cidade na capital do reino. O atual rei Rama IX está no poder há 59 anos e talvez seja o mais antigo soberano depois da rainha da Inglaterra. Muito popular, sempre soube valorizar a cultura local e, por ser um amante da boa comida, tornou-se um promotor da cozinha thai.
Com uma forte vocação budista de bem receber, a impressionante indústria de turismo tailandesa causa inveja para nós, brasileiros. Em Bangkok, fiquei hospedado no clássico Mandarin Oriental, uma pérola de luxo e do estilo de viajar. Fundado em 1876, o local recebeu – e continua recebendo – celebridades do mundo todo. Seus 393 luxuosos aposentos e suítes foram totalmente reformados em estilo clássico contemporâneo, e o local conta com dez restaurantes de vários estilos, entre eles os famosos Sala Rim Naam (imperdível, com salão de baile e danças típica clássicas) e Terrace Rim Naam, que serve a mais tradicional thai cuisine em um ambiente de glamour absoluto! Para ir ao Sala, que pertence ao Mandarin mas fica em outro endereço, deve-se pegar um barquinho típico, do qual se desembarca bem no jardim. Observe o horário da reserva, pois um show de danças típicas antecipa o jantar-degustação. Adorei tanto que retornei outro dia e pedi a la carte: impecáveis peixes sugeridos pelo maître acompanhados de cerveja!
Hotel Mandarin Oriental, em Bangkok
A Cooking School do hotel tem seu próprio chef-professor, que aqui se chama Narain Kiattiyotcharoen. Mister Ki, nosso teacher, ensinou em uma private class a fazer dois pratos rápidos. Foi um show, um charme. Só vendo mesmo para sentir. Nos aventuramos com o Yam Som-O e o Khao Nio Piak Lumyai. O primeiro trata-se de uma espécie de salada, e o segundo, uma sobremesa de arroz e lichia. Depois, muito cooconut flesh, base de tudo em Bangkok, folhas de lima (o olfato não para de trabalhar na aula), ervas e curry em pasta; enfim, uma pirotecnia de aromas explosivos.
Prato preparado por mim na Cooking School do Four Seasons
Thai de rua
Preparação típica de barraquinhas do mercado municipal
Além dos hotéis e restaurantes infindáveis, Bangkok é a capital mundial do streetfood, das barraquinhas de comida ao ar livre, nas quais você pode comer com toda a segurança, pois é tudo muito fresco e limpo. É tão bem organizado que existe até cotação nas barraquinhas: repare que pode ter um, dois ou três potinhos pintados nas barracas. São as "estrelas”, avaliadas por gente de lá que entende do assunto. Então, delicie-se com polvo no espeto, siris apimentados e bananas carameladas e várias frutas exóticas, bem doces e diferentes das nossas.
Mercado fluvial de Bangkok
Outro programa obrigatório é ir ao mercado flutuante, o Talat Nam Damnoen Saduak, que abre de manhã. Muito movimentado, fica distante do centro. Vale a pena ir cedo para viver o clima autêntico e confuso do lugar. Tudo é feito nos barquinhos, coisa que encanta mesmo o turista. A comida no floating market não é exatamente para gourmets – a não ser que você esteja a fim de um prato feito ao estilo "fast food flutuante”. Mas o que eu comi estava bem gostoso e custou não mais que uns R$ 2. Vem servido no pratinho de plástico, honesto, popular e nutritivo. E não precisa de mais, porque aqui os sabores é que são a estrela que nos conduz por uma verdadeira e inesquecível experiência thai.
Prato típico preparado na hora no mercado fluvial de Bangkok
Restaurantes imperdíveis
• SirocCo, de cozinha mediterrânea e tailandesa: a vista de Bangkok de lá no fim do dia é deslumbrante!
• Sala Rim Naam, do Mandarin Oriental: combina um maravilhoso salão de dança típica com restaurante thai. Um programa inesquecível.
• Talingping, que fica no Pan Road: restaurante simples de cozinha tailandesa muito boa – recomendação dos experts Cyro Sá e Marina Pipatpan, confirmada por mim.
• Me and You: aposta em bufê de ensopados de arroz com uma infinidade de acompanhamentos. É de arrasar e traz ótimos Kao Soi e Kao Tom.
• Mayionpuri: dono de um belo terraço de decoração balinesa e de boa culinária thai, divide as honras da casa com pratos da cozinha internacional.
• Baan Pla Sot, em frente ao Forte Phra Sument: especializado em pescados, fazem peixes temperados e preparados de tudo quanto é jeito.
• Os tops Blue Elephant, Lanna Thai e Wyndham Thai são os mais caros e chiques, seguidos por Erawn Tea Room, Mahanaga, Ruen Malika, SUPATara e Naj, um pouquinho mais econômicos, e, por fim, o Kinnaree Gourmet Tai, de cozinha nota alta e custo baixo.
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